domingo, 7 de abril de 2019

A Sagração da Putaria

O Theatro Municipal vai passar um ballet-orquestra chamado A Sagração da Primavera. Fiquei curioso pra ver, fui no Youtube aqui e vi a apresentação de Paris em 2013. É uma bagaça bem estranha, mas sinceramente eu gostei e vi valor. A coreografia original é de Vaslav Nijinsky, e a música é de Igor Stravinsky.


A reapresentação comemorando 100 anos da premiere, em Paris (fiel ao original)
Conta a história de uma tribo pagã (Russa, ao que consta) celebrando a chegada da primavera e sacrificando uma menina bonita, que se mata de tanto dançar. A coreografia é bastante bizarra, e a música também (confusa, assimétrica, dissonante, tem que ouvir pra entender). Mas eu gostei porque fez sentido, e de certa forma guarda uma verdade que parece ser universal: uma cultura que não conhece - muito menos valoriza - a harmonia degenera em ritmo sem sentido e em morte, literal ou metaforicamente falando.
Pois bem, não fui ver a versão do Theatro Municipal, mas vi no facebook algumas imagens. Sei que é complicado julgar assim, mas as imagens mostram claramente que substituíram todo o figurino e cenário da peça por uma versão puteiro da coisa.

A chamada do Theatro Municipal. Repara a linguagem corporal das mulheres, o figurino, cores, etc
No site oficial da peça, há a seguinte informação:
A produção que reestreia no Theatro Municipal se distancia da montagem original ao propor uma reflexão atual das questões ambientais. Em todo o espetáculo, pétalas de rosa cairão. O fluxo se intensifica à medida que aSagração (sic) se desenvolve. “A beleza que se introduz com uma suave chuva de pétalas, dá lugar a uma tempestade, num delírio incessante e incontrolável. Os bailarinos passam a ter muita dificuldade para dançar e o que era bonito, vira uma tortura. Funciona como uma metáfora e uma forma de alarme ao desequilíbrio das condições ambientais”, afirma Ismael Ivo. Ao todo, são 650 mil pétalas artificiais revestidas de veludo que caem e enchem de beleza o palco do Theatro.

Então a peça, que é sobre a degeneração resultante de se desprezar os aspectos mais elevados da alma, é readaptada, com o objetivo artificial de falar de questões ambientais, e acaba só degenerando em putaria. Stravinsky e Nijinsky estavam certos.