domingo, 29 de dezembro de 2019

Ladainha da Humildade

Jesus, manso e humilde de coração, ouvi-me.
Do desejo de ser estimado, livrai-me, ó Jesus.
Do desejo de ser amado, livrai-me, ó Jesus.
Do desejo de ser conhecido, livrai-me, ó Jesus.
Do desejo de ser honrado, livrai-me, ó Jesus.
Do desejo de ser louvado, livrai-me, ó Jesus.
Do desejo de ser preferido, livrai-me, ó Jesus.
Do desejo de ser consultado, livrai-me, ó Jesus.
Do desejo de ser aprovado, livrai-me, ó Jesus.

Do receio de ser humilhado, livrai-me, ó Jesus.
Do receio de ser desprezado, livrai-me, ó Jesus.
Do receio de sofrer repulsas, livrai-me, ó Jesus.
Do receio de ser caluniado, livrai-me, ó Jesus.
Do receio de ser esquecido, livrai-me, ó Jesus.
Do receio de ser ridicularizado, livrai-me, ó Jesus.
Do receio de ser infamado, livrai-me, ó Jesus.
Do receio de ser objeto de suspeita, livrai-me, ó Jesus.

Que os outros sejam amados mais do que eu, Jesus, dai-me a graça de desejá-lo.
Que os outros sejam estimados mais do que eu, Jesus, dai-me a graça de desejá-lo.
Que os outros possam elevar-se na opinião do mundo, e que eu possa ser diminuido, Jesus, dai-me a graça de desejá-lo.
Que os outros possam ser escolhidos e eu posto de lado, Jesus, dai-me a graça de desejá-lo.
Que os outros possam ser louvados e eu desprezado, Jesus, dai-me a graça de desejá-lo.
Que os outros possam ser preferidos a mim em todas as coisas, Jesus, dai-me a graça de desejá-lo.
Que os outros possam ser mais santos do que eu, embora me torne o mais santo quanto me for possível, Jesus, dai-me a graça de desejá-lo.

Cardeal Merry del Val

Fonte: Montfort

quarta-feira, 11 de setembro de 2019

Se eu não tivesse um filho


Se eu não tivesse um filho, eu não teria que passar por uma série de provações e desprazeres.

Eu não teria que acordar múltiplas vezes, todas as noites, quando ele tem algum gás que o incomoda e tira-lhe o sono. Ou quando a barriga dele dói de fome e a única coisa que o acalenta é o leite da mãe.

Eu poderia chegar em casa e descansar. Me desligar de qualquer coisa pendente a ser feita, mesmo porque não haveria tanto assim para ser feito. Não haveria brinquedos e panos de boca vomitados jogados por todos os lados. Não haveria carrinho no meio da sala, nem haveria toalha molhada em cima do trocador, que deveria ser pendurada na cadeira para não mofar. Não haveria água a ser fervida e garrafa térmica a ser reabastecida. Não haveria lixeira de fraldas a ser limpa, nem haveria mil coisas da esposa a serem recolhidas, que a coitada não teve tempo durante o dia.

Eu poderia ler um livro, fazer um curso, praticar artes marciais, tocar piano. Não que eu não faça tudo isso, mas faria sem culpa, com tempo para escolher com o que meu coração vai se apaixonar dessa vez.

Eu não teria que trocar a roupa de ninguém, exceto a minha própria, e muito menos teria que trocar de novo porque vomitaram ou cagaram nela assim que foi colocada. Eu não precisaria dar banho em ninguém, exceto em mim mesmo, e muito menos precisaria trocar a água da banheirinha porque cagaram nela assim que o banho foi começado.

Eu não precisaria rezar mil Ave Marias pedindo saúde para ele porque as cólicas o torturam, e outras mil para me dar força para aguentar a gritaria. Eu não precisaria ter que me preocupar com contaminação cruzada de leite de vaca ameaçando desencadear uma suposta alergia. Eu não precisaria aguentar a ligação da minha esposa desesperada durante o dia, com os berros que não me deixam escutar o que ela tem a dizer. Eu nem precisaria plotar peso de criança em curva e ter que me convencer de que zona amarela não é lá tão ruim assim.

Eu poderia simplesmente ter escolhido um caminho mais fácil. Eu poderia não estar morrendo de cansaço.

Mas, Graças a Deus, tivemos nosso filho.

E o eu que vai morrendo nem vale tanto assim. Ele olha tudo em termos compensatórios. Meu filho não me deixa dormir, mas pelo menos ele me dá um breve sorriso de vez em quando. Ele não pára de gritar, mas se eu o abraço ele me acaricia o rosto. Esse eu é um mercenário idiota se acha que o que faz um sofrimento valer é uma compensação momentânea de mesma magnitude. "Pelo menos ele sorri para mim". Que imbecil.

Porque viver sem provações e sem desprazeres não existe, e porque não é a vida que me deve algo, e sim o contrário. Porque, pior ainda, essa contabilidade nunca fecha, e o que fecha é o coração de quem espera contrapartida de tudo que faz. Porque, ora, que diabos se merece nessa vida? Em que momento da existência se assina um contrato, com contratante e contratada, em que as partes se comprometem com iguais deveres e direitos?

Mas sim: porque para o eu ter algum sentido é necessário resignar-se servilmente e amorosamente.

O filho amadurece a alma do pai, digamos, no grito. O berro infantil espanta a vontade pueril do pai de querer correr para os lados, e o atira para a única direção que o amor torna possível, que é para cima. É na birra do filho que a imaturidade do pai dá espaço à virtude.

Ou será que é melhor ser impulsivo que paciente? Ou é melhor ser preguiçoso que responsável? Ou é melhor ser disperso que focado? Ou é melhor ser egoísta que generoso? Ou é melhor a euforia que a equanimidade? Ou é melhor ser inútil que útil?

Mas não: é melhor ser um homem que uma criança.

sexta-feira, 6 de setembro de 2019

Sínojo

Atualização 29 de Dezembro de 2019: essa postagem foi um erro. Só não vou remover para me lembrar da capacidade imensa que eu tenho de fazer besteira. Vida longa ao Papa Francisco.
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Um amigo lançou a seguinte pergunta: "E o Sínodo da Amazônia? Palavra de Deus ou complô do Foro de São Paulo?"

Ótima pergunta. Vamos averiguar.

Este é o working document oficial do Sínodo. O sumário já dá uma bela pista sobre do que vai se tratar. "Amazônia, fonte de vida", "Vida ameaçada", "Defender a vida, enfrentar a exploração", "Destruição extrativista", etc. A Parte II intitula-se "ECOLOGIA INTEGRAL: O CLAMOR DA TERRA E DOS POBRES". Onde já vimos isso antes?


Não pode ser. Leonardo Boff é um teólogo liberal apóstata e herege. O homem é o demônio em pessoa. Ele é um grande inimigo da igreja. Não importa que a encíclica do Papa Francisco esteja alinhada com a narrativa eco-globalista, ele certamente não se inspiraria em um inimigo da igreja para pautar um Sínodo inteiro.

A Teologia da Libertação da América Latina, da qual você é um dos seus representantes mais proeminentes, recebeu novas honras do Papa Francisco. Uma reabilitação para você depois de décadas de luta com o papa João Paulo II e seu supremo guardião da fé Joseph Ratzinger, o posterior papa Bento XVI? 
Francis é um de nós. Ele fez da teologia da libertação propriedade comum da igreja. E ele estendeu. Aqueles que falam dos pobres também devem falar da terra hoje, porque eles também são saqueados e profanados. "Ouvir o choro dos pobres" significa ouvir o choro dos animais, da floresta, de toda a criação torturada. A terra inteira está gritando. Então, o papa diz, citando o título de um dos meus livros, devemos ouvir o clamor dos pobres e da terra ao mesmo tempo. E ambos têm que ser libertados. Eu mesmo tenho me preocupado muito com essa extensão da teologia da libertação recentemente. E essa também é a coisa fundamentalmente nova em "Laudato si" ... 
... a eco-encíclica do papa de 2015. Quanto Leonardo Boff tem em Jorge Mario Bergoglio? 
A encíclica pertence ao papa. Mas ele consultou muitos especialistas. 
Ele leu seus livros? 
Ainda mais. Ele pediu material para "Laudato si". Dei a ele meu conselho e enviei um pouco do que escrevi. Ele usou isso também. Algumas pessoas me disseram que estavam lendo "esse é Boff!" A propósito, o Papa Francisco me disse: "Boff, por favor, não envie os papéis diretamente para mim".
Estão claríssimas as motivações do Sínodo da Amazônia. O Papa Emérito Bento XVI já disse que a Teologia da Libertação é anti-cristã, e alguns membros sêniores da Igreja já se posicionaram fortemente contra este Sínodo. 

Resta um apelo: por favor, Papa Francisco, reconsidere.

quarta-feira, 4 de setembro de 2019

Como destruir uma cidade

O governo da cidade de São Francisco (EUA) acaba de definir a NRA como uma organização terrorista.

Imagino que um leitor deste blog teria dificuldades de entender essa notícia. Para ajudar, montei a seguinte tabelinha sobre o que vale e o que não vale de acordo com os californianos

De boas Não de boas
Chamar um grupo que defende os direitos constitucionais das pessoas, a NRA, de terrorista Chamar um criminoso de criminoso
Espalhar HIV de maneira dolosa Entregar canudinho de plástico no restaurante
Feira de fetiche em ruas públicas, com direito a sexo ao ar livre Ter página católica em rede social californiana
Cobrar mais imposto do que 90% dos estados da federação Usar dinheiro público para viajar para estados pró-vida

Manterei atualizado...

Fontes:
  • 1a: https://www.bbc.com/news/world-us-canada-49574445
  • 1b: https://www.sfchronicle.com/bayarea/philmatier/article/SF-Board-of-Supervisors-sanitizes-language-of-14292255.php?psid=leUVR
  • 2a: https://www.washingtonpost.com/news/to-your-health/wp/2017/10/09/knowingly-infecting-others-with-hiv-is-no-longer-a-felony-in-california-advocates-say-it-targeted-sex-workers/?noredirect=on
  • 2b: https://www.nationalreview.com/2018/07/plastic-straw-ban-santa-barbara-jail-time-punishment/
  • 3a: https://www.folsomstreetevents.org/folsom-street-fair/
  • 3b: https://cal-catholic.com/more-than-20-catholic-pages-blocked-from-facebook/
  • 4a: https://taxfoundation.org/publications/state-local-tax-burden-rankings/
  • 4b: https://cal-catholic.com/san-francisco-bans-official-travel-to-pro-life-states/

sexta-feira, 30 de agosto de 2019

Livros lidos em 2019


  • Aprendendo Inteligência - Pier Luigi
    • Livro de criança, não sei por que me dispus a ler. Fala como não aprendemos nada na aula, e por isso é importante ler a matéria que se teve aula no mesmo dia, pois é nesse momento que se aprender. Vou recomendar ao Gabriel quando ele tiver idade.
  • Surely You're Joking, Mr. Feynman - Richard Feynman
    • Autobiografia do físico Richard Feynman, prêmio Nobel, um dos responsáveis pela bomba atômica. O cara aparentemente era um baita gênio, meio doido, mas bastante carismático. Passou um tempo lecionando no Brasil e disse que aqui não se ensina física, o que eu concordo. Todos deveriam ter sua forma de abordar problemas: com sinceridade e autenticidade, e não tentar encaixar através de estruturas pré-concebidas.
  • Skunk Works - Ben Rich
    • História da Skunk Works, a divisão de projetos especiais da Lockheed Martin, à época da Guerra Fria. O que fez ela ser tão bem sucedida é a sua abordagem sincera e autêntica na resolução dos problemas de engenharia (foi uma boa sequência ao "Surely You're Joking, Mr. Feynman"). Deu vontade de voltar a ser engenheiro, pena que a realidade hoje e no Brasil é totalmente diferente.
  • Guia Suno de Fundos Imobiliários
    • Pura bosta. Não vale o review.
  • Confissões - Santo Agostinho
    • Muito bom. O livro começa fazendo jus ao nome, com Santo Agostinho narrando sua vida e confessando a Deus os diversos pecados que cometeu, desde o momento em que nasceu até após sua conversão, já adulto. Ao mesmo tempo, é um livro apologético e de glorificação. Ao final, parece que o livro "Confissões" termina e começa um outro de filosofia, em que Santo Agostinho analisa o significado do início do livro do Gênesis ("No princípio Deus fez o céu e a Terra"), a qual eu particularmente achei muito esclarecedora, mas não entendi a conexão com suas Confissões. Livro para ler de novo, especialmente suas partes filosóficas.
  • Almas Mortas - Nikolai Gógol
    • Chato. O Autor passa metade do tempo divagando em descrições e narrativas hiperdetalhadas, e essa é a razão de ser da obra, que tem como objetivo criar uma imagem perfeita na cabeça do leitor do provincianismo russo camponês e sua baixeza moral envernizada de bom comportamento social. O objetivo é atingido, e acho que o livro é aclamado justamente porque essa imagem "pintada" é talvez universal e atemporal -- certamente a reconheço aqui no Brasil. Mesmo assim achei pessoalmente chato.
  • O Estrangeiro - Albert Camus
  • A Nova Era e A Revolução Cultural - Olavo de Carvalho
  • As Aventuras de Tom Sawyer - Mark Twain
  • As Nuvens - Aristófanes
  • As Vespas - Aristófanes
  • Lisistrata - Aristófanes
  • O trabalho intelectual - Jean Guitton
  • O Trabalho e os Dias - Hesíodo
  • Teogonia - Hesíodo
  • Prometeu Acorrentado - Ésquilo
  • Orestéia (Agamemnon, Coéforas, Eumênides) - Ésquilo
  • ...
Encerrei por aqui essa empreitada de colecionar bullet points. Notei que estava lendo como se estivesse amealhando créditos de leitura, em parte por pura vaidade, como se ticar a lista de leitura fosse me render uma espécie de distintivo, em parte porque descobri que meu nível de leitura provavelmente não passa de Passivo Bruto Completo, segundo nível na classificação de cinco níveis do Rafael Falcon.

O primeiro problema estou tentando resolver confessando-o a mim mesmo e publicamente.

O segundo problema estou tentando resolver primeiramente pelo curso de latim do Rafael Falcon.

domingo, 7 de abril de 2019

A Sagração da Putaria

O Theatro Municipal vai passar um ballet-orquestra chamado A Sagração da Primavera. Fiquei curioso pra ver, fui no Youtube aqui e vi a apresentação de Paris em 2013. É uma bagaça bem estranha, mas sinceramente eu gostei e vi valor. A coreografia original é de Vaslav Nijinsky, e a música é de Igor Stravinsky.


A reapresentação comemorando 100 anos da premiere, em Paris (fiel ao original)
Conta a história de uma tribo pagã (Russa, ao que consta) celebrando a chegada da primavera e sacrificando uma menina bonita, que se mata de tanto dançar. A coreografia é bastante bizarra, e a música também (confusa, assimétrica, dissonante, tem que ouvir pra entender). Mas eu gostei porque fez sentido, e de certa forma guarda uma verdade que parece ser universal: uma cultura que não conhece - muito menos valoriza - a harmonia degenera em ritmo sem sentido e em morte, literal ou metaforicamente falando.
Pois bem, não fui ver a versão do Theatro Municipal, mas vi no facebook algumas imagens. Sei que é complicado julgar assim, mas as imagens mostram claramente que substituíram todo o figurino e cenário da peça por uma versão puteiro da coisa.

A chamada do Theatro Municipal. Repara a linguagem corporal das mulheres, o figurino, cores, etc
No site oficial da peça, há a seguinte informação:
A produção que reestreia no Theatro Municipal se distancia da montagem original ao propor uma reflexão atual das questões ambientais. Em todo o espetáculo, pétalas de rosa cairão. O fluxo se intensifica à medida que aSagração (sic) se desenvolve. “A beleza que se introduz com uma suave chuva de pétalas, dá lugar a uma tempestade, num delírio incessante e incontrolável. Os bailarinos passam a ter muita dificuldade para dançar e o que era bonito, vira uma tortura. Funciona como uma metáfora e uma forma de alarme ao desequilíbrio das condições ambientais”, afirma Ismael Ivo. Ao todo, são 650 mil pétalas artificiais revestidas de veludo que caem e enchem de beleza o palco do Theatro.

Então a peça, que é sobre a degeneração resultante de se desprezar os aspectos mais elevados da alma, é readaptada, com o objetivo artificial de falar de questões ambientais, e acaba só degenerando em putaria. Stravinsky e Nijinsky estavam certos.